Título: A Bailarina da Morte
Autoras: Lilian Schwarcz e Heloisa Starling
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 368
Resumo do livro A Bailarina da Morte
O vírus da gripe existe desde que a humanidade resolveu se fixar em determinado lugar e se tornou sedentária. Entre mutações e epidemias, o Homem passou por todas elas ao longo dos tempos. Mas, em 1918, no final da Primeira Guerra Mundial, o vírus da gripe mostraria uma de suas faces mais tenebrosas. Com o bloqueio da imprensa nos países envolvidos na guerra, coube à imprensa espanhola (a Espanha era neutra no conflito) a tarefa de expor ao mundo o terror de um novo vírus, que por isso passou a se chamar “gripe espanhola”.
A mortalidade da gripe assustava, em 1918 morria-se mais de gripe do que nos combates na linha de frente. Apesar dos números serem maquiados pelas potência beligerantes, a realidade já estava batendo à portas das nações: os soldados que restaram estavam retornando para casa. Assim, as autoras pesquisaram em arquivos públicos de saúde e em diversas outras fontes oficiais para mostrar um panorama da chegada do vírus e da devastação causada pela gripe espanhola no Brasil no final de 1918.
“Além do mais, nenhuma estratégia de combate à moléstia foi montada para socorrer a população. E eram muitas as deficiências vigentes nas estruturas sanitárias e de saúde nacionais, que ficaram ainda mais evidentes no período pandêmico, a começar pela administração sanitária, a qual, logo que a doença chegou, se revelou inepta. Depois dela, entraram em colapso as instituições de saúde. Mas isso não foi novidade.”
A porta de entrada para o vírus foi o porto de Recife, que recebeu o navio Demerara, que trazia a bordo a missão médica brasileira enviada à Europa para ajudar no tratamento da gripe. É provável que os primeiros contaminados pegaram a gripe em Dakar, na última parada antes do retorno. Quando aqui aportou o Demerara já contabilizava dezenas de contaminados e espalhou o vírus por onde passou. Salvador, Rio de Janeiro e Santos.
Inicialmente sem conhecimento do que poderia ser aquela moléstia que matava após uma média de 5 dias de intenso terror para o contaminado, as primeiras medidas do governo republicano e do governo pernambucano foram tratar esse vírus como outro qualquer, com remédios variados e conhecidos, mas que serviam à outras doenças: peste bubônica, cólera e malária. Mas todos ineficazes contra a gripe “bailarina”, outro apelido dado ao vírus influenza devido a rapidez com que era disseminado.
“O Brasil de 1918 era um país profundamente desigual, em que as cidades apresentavam grandes bolsões de pobreza. Por isso mesmo, muitos argumentavam ser ‘antinatural’ ou impossível manter medidas de isolamento numa sociedade urbanizada e industrializada como aquela.”
A pandemia que se instaurou no Brasil deixou claro como o país estava atrasado em todas as questões sociais: a maior parte dos mortos era da camada pobre simplesmente porque essas pessoas não recebiam assistência médica adequada. Por sua vez, o serviço de saúde brasileiro foi posto à prova e mostrou o despreparo e a fraqueza de seu sistema. Até o sistema político, re-moldado pela recente república, mostrou como o coronelismo e a política de favores ainda comandava o país.
Sem ter para onde correr, sem hospitais especializados, sem médicos em número suficiente e com o sistema político omitindo as informações, nada restou à população senão a sabedoria popular. Emplastros, chás, infusões, pós, banhos, ervas, tudo serviu como remédio para tratar o mal que se abatia nas regiões mais pobres das grandes cidades. A salvação da vez era o quinino, remédio antitérmico e analgésico usado para tratar arritmia cardíaca e malária e que não servia em nada para a influenza. Além de não ser inócuo e trazer inúmeros efeitos colaterais para quem tomava (e muita gente tomou) sem prescrição médica.
“Quando a morte acontece em momentos de graves crises sociais, como guerras, fome e epidemias, ela se torna ainda mais perturbadora, pois escapa do curso considerado ‘normal’ nas sociedades. Diante da morte coletiva, das perdas que afetam milhares de pessoas e das quebras da rotina, o sentido dos ritos se dissipa, e as reações sociais tomam novo rumo. Visões do apocalipse, a procura do milagre, parecem tomar conta do imaginário social, que oscila então, e com grande rapidez, entre a ciência e a sabedoria popular.”
Os números de mortos foram apagados da história, casos subnotificados, mortes com outros laudos e até mesmo uma doença nova, inventada por políticos para mascarar o horror da gripe espanhola. Da mesma forma que veio, a influenza se foi. Novos surtos apareceram em 1919, mas nenhum com tanta mortalidade quanto a pandemia de 1918.
A Bailarina da Morte – Conclusão
Infelizmente, esse livro é triste e assustadoramente atual. Mostra o quanto estamos atrasados politica e socialmente. Morremos agora pelos mesmos motivos de antes: ignorância, falta de organização, falta de informações verdadeiras e um jogo político maior que o próprio vírus.
“Sabemos, porém, que a humanidade é teimosa na hora de aprender com o passado. Normalmente opta por repetir comportamentos. É o que Susan Sontag chama de ‘doença como metáfora’; a maneira como o senso comum prefere se apegar a irracionalismos, afastar-se das descobertas científicas e castigar as vítimas com o peso de uma culpa injustificável.”
Acompanhe o blog também no Instagram, Facebook, Youtube e Spotify
Se você chegou até aqui e gostou da resenha, adquira a obra através do link abaixo e apoie o Resumo de Livro.
A Bailarina da Morte
Até a próxima