Título: A Vida é Sonho
Autor: Calderón de La Barca
Editora: Verbo
Páginas: 113
Resumo do livro A Vida é Sonho
Calderón de La Barca é conhecido como o Shakespeare Espanhol, e um dos maiores poetas e dramaturgos da literatura mundial. Os gêneros teatrais favoritos de Calderón eram a comédia de intriga, as peças de mistério e o teatro trágico enraizado em dilemas éticos. Escrevendo durante o período em que as regras não escritas do teatro da Era de Ouro Espanhola estavam sendo concebidas, Calderón de La Barca expandiu os limites do teatro espanhol, introduzindo inovações radicais, que hoje são conhecidas como surrealismo e metaficção.
A Vida é Sonho – História
A história se passa na corte da Polônia, onde a rainha sonha que seu filho será um monstro. Logo após, morre no parto. O rei, pai da criança, temendo o presságio, decide criar a criança trancada numa torre sem contato com o mundo. Chegando a velhice, o rei decide testar o filho que nada sabe sobre sua história. Ele é drogado e acorda na corte sendo tratado como príncipe herdeiro para logo depois ser novamente drogado e acordar em sua prisão na torre. O príncipe então acha que tudo se tratou de um sonho e perde a capacidade de distinguir quando está sonhando e quando está vivendo.
Quando finalmente foi libertado de seu confinamento, Segismundo foi confrontado com a possibilidade perturbadora de que sua vida até então poderia ter sido apenas um sonho fugaz. A dualidade entre livre-arbítrio e destino é o cerne do dilema de Segismundo, fazendo-o questionar se suas ações são predestinadas ou se ele tem o poder de moldar seu próprio destino.
“Segismundo – Pobre de mim, ai misero, infeliz!
Descobrir, céus, pretendo,
se neste estado me vi,
que delito cometi
contra vós outros, nascendo;
Pois se nasci, eu entendo
o delito cometi.”
Segismundo, assim como Édipo, é um sujeito com um fado a ser cumprido; o qual envolve não somente a si próprio e seus familiares, mas também todo um reino. O drama, no entanto, não se concretiza enquanto tragédia, pois o destino do personagem não se cumpre na totalidade devido a necessidade teológica do fator moralizante inerente ao teatro Barroco, e a trajetória individual de Segismundo é, então, radicalmente alterada. Há, inclusive, uma atualização cristã do tema mitológico do conflito geracional entre Pai e Filho que, ao invés de terminar com a aniquilação de um ou de outro, termina de forma catártica com reconciliação entre ambos.
Na peça há o constante jogo de contrastes típico do Barroco. A dualidade de potencias contrárias é um elemento muito presente no texto de Calderón de la Barca. Uma das características do período é o homem levantar questionamentos a Deus, como podemos ver logo no início, quando Segismundo aparece acorrentado questionando o divino sobre os motivos ocultos do seu sofrimento. Há também uma ação secundária com Rosaura, que age em prol de si própria, para a restauração de sua honra.
“Segismundo – Que é a vida? Um frenesi;
Que é a vida? Uma ilusão,
Uma sombra, uma ficção,
e é pequeno o maior bem;
que o sonho a vida sustém
e os sonhos sonhos são.”
Assim sendo, o autor aborda duas ações distintas que convergem em um fim comum e ambas se estendem do encontro entre Rosaura e Segismundo na torre, ao anoitecer, na primeira jornada, e se concluem com o final da batalha e a rendição de Basílio, nas cenas finais. Para se situar bem é essencial entender que a visão cristã permeia o argumento principal da peça: a vida aqui como sonho é uma metáfora em que a vida terrena é uma continuidade de imagens curtas e aparentes se comparadas a eterna vida ou eterno sofrimento pós morte que espera os humanos.
Os solilóquios de Segismundo mergulham profundamente na sua alma, revelando sua angústia palpável. Após anos de confinamento, ele se depara com a incerteza de que sua vida poderia ter sido um mero devaneio. Em seus momentos de solidão, suas palavras ressoam como um eco das questões universais sobre a natureza da existência, a dualidade entre destino e livre-arbítrio, e a busca pela verdadeira essência do eu.
“Segismundo – Estou a sonhar, e quero
fazer o bem; mesmo em sonhos,
nada se perde em fazê-lo.”
A Vida é Sonho – Conclusão
A Vida é Sonho é a obra prima de Calderón de La Barca. Nessa peça ele combina um enredo parecido com A Bela e a Fera, traços de personagens que lembram Noite de Reis de Shakespeare, conceitos surrealistas, complicações românticas e a ameaça de uma guerra dinástica. Ao mesmo tempo, o autor discute questões filosóficas acerca da predestinação. O destino de cada Homem já foi escrito sem seu envolvimento, e não há nada que ele possa fazer, ou o livre arbítrio pode alterar o futuro?
A vida é um sonho? Despertamos finalmente quando morremos?
A influência da obra de Calderón, desta peça em especifico, perpassou séculos e deixou marcas profundas em importantes obras do cinema como o celebrado Matrix, de 1999, que, assim como a peça, traz como seu motivo principal este mundo fraturado entre real e ilusório.
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