Título: Gulag
Autora: Anne Applebaum
Editora: Debate
Páginas: 980
Resumo do livro Gulag
Quando pensamos em deportações em massa, extermínio de inimigos, indústria da morte e campos de concentração, é natural que a imagem dos campos de concentração nazista seja a única que venha à nossa mente. Porém, o que esse livro mostra é que muito antes da máquina da morte do nazismo entrar em funcionamento, já existia uma complexa e vasta organização de campos de concentração espalhadas por toda a União Soviética. Além disso, apesar de ser impensável, essa estrutura perdurou até muito tempo depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial
Gulag – História
Já existiam campos de trabalhos forçados na Rússia Czarista, para onde os indesejados e inimigos do Czar eram enviados para cumprir suas penas. Com a Revolução Russa de 1918, e os expurgos que se seguiram na esteira da Revolução, o número de inimigos aumentou de forma exponencial. As prisões comuns já não davam conta do grande fluxo de pessoas que diariamente eram julgadas e enviadas para esses locais. Logo, o alto comando soviético resolveu não apenas manter em funcionamento os campos de trabalho czaristas, como aumentar e expandir para todo o território.
A princípio as áreas próximas à Leningrado e à Moscou foram as primeiras a receberem esse tipo de estrutura. Os primeiros presos do regime comunistas foram, em sua maioria pessoas que eram contra os rumos da Revolução, mas esse contingente logo seria ampliado para qualquer um que estivesse sob o espectro de crimes de “subversão” ou “sabotagem”. Na prática, bastava que o indivíduo figurasse em alguma lista de indesejados, para o regime ou para os comandantes, para ser acusado de algum desses crimes.
“A palavra Gulag é um acrônimo de Glavnoe Upravlenie Lagerei, ou Administração Central dos Campos. Com o tempo, passou também a indicar não só a administração dos campos de concentração, mas também o próprio sistema soviético de trabalho escravo, em todas as suas formas e variedades.”
Com o aumento vertiginoso de capturados, o alto escalão soviético iniciou o processo de expansão dos campos, agora já chamados de Gulag. Desde às planícies desérticas da Ásia Central, até os campos mineiros do extremo oriente, passando pelos campos da Sibéria, no ápice de funcionamento do Gulag, havia um campo de trabalhos forçados para cada um dos 12 fusos horários da União Soviética. Os presos não eram separados, então presos por crimes comuns, como assassinato, eram colocados juntos de especialistas, como engenheiros e médicos, que haviam sido presos por “sabotagem”. Além disso, mulheres, crianças e idosos tampouco escapavam da máquina da morte soviética.
Como as distâncias entre Moscou e Leningrado e os campos eram enormes, e as estradas de ferro precárias, o sofrimento dos presos começava logo na viagem. Sem receberem comida e água, sendo transportados em vagões para gado, durante uma viagem que durava de semanas a meses, muitos morriam de inanição ou de disenteria. As longas paradas nas estações durante as viagens só aumentava o sofrimento dos presos, que tinham que conviver com a fome, com a sede e com o frio.
O Gulag tinha suas próprias leis, seus próprios costumes, sua própria moralidade, até sua própria gíria. Gerou sua própria literatura, seus próprios vilões, seus próprios heróis e deixou sua marca em todos os que passaram por ele, fosse como presos, fosse como guardas.”
Quando chegavam ao Gulag, muitos deles ainda passavam por interrogatórios e longas sessões de tortura. Eram encarcerados em celas apinhadas que não possuíam qualquer estrutura básica. Os campos foram criados em regiões próximas à grandes áreas de exploração. Assim, os campos da Sibéria serviam para a extração de madeira e pescado, os campos do oriente e da Ásia central eram próximos às minas. Dessa forma, o Gulag adquiria duas importâncias para o regime de Stálin. Serviam como prisão e desterro para indesejados e inimigos do Estado. E também serviam para suprir o governo com itens de grandeza básica, como madeira, carvão e metais preciosos.
A autora conseguiu juntar, ao longo de anos de pesquisa, e graças à abertura política com o fim da União Soviética, milhares de relatórios, listas de prisioneiros, decisões de julgamentos, e todos os tipos de documentos que comprovam, não apenas a existência dos Gulag, como a participação ativa de membros do alto escalão do Estado soviético nas decisões que levaram milhões de pessoas à morte. Anne também teve acesso a centenas de pesquisas que foram feitas e que continham depoimentos de sobreviventes. Ela mesmo fez dezenas de entrevistas. Esses relatos servem para aprofundar as denuncias contra o Estado soviético e o seu planejamento em matar milhões de pessoas nos campos de concentração.
Gulag – Conclusão
Conforme o Estado soviético colapsava, os campos de concentração também se aproximavam de seu fim. O Gulag terminou quando a União Soviética ruiu. Atualmente existem comissões para rever os erros cometidos. Sem dúvida, o objetivo é encerrar a discussão sobre o passado, apaziguar as vítimas, e evitar uma investigação mais profunda das causas do stalinismo e de seu legado. Agora, o Gulag são parte de uma história distante, e os poucos que lembram da história preferem manter o silêncio.
“Desde os primeiros dias do Estado soviético, as pessoas seriam condenadas a cumprir pena não pelo que fizessem, mas pelo que fossem.”
O livro é um relato detalhado de toda a história e todos os pormenores do complexo e enorme sistema de campos de concentração e extermínio soviéticos. Assombra pela riqueza de detalhes, e mais ainda pela transparência com que descreve os horrores sofridos por milhões de soviéticos e estrangeiros nos campos da morte soviéticos durante o século XX. Impossível não se revoltar com tanta falta de humanidade. Um livro forte, angustiante, porém extremamente necessário para quebrar alguns paradigmas em relação ao comunismo.
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