Título: Na Colônia Penal
Autor: Franz Kafka
Editora: Antofágica
Páginas: 73
Resumo do livro Na Colônia Penal
Franz Kafka foi capaz de dar nome a uma das maiores heranças da modernidade: à medida que os sistemas de relações humanas tornam-se mais complexos, as soluções para nossos temores tornam-se mais abstratas e burocráticas, a ponto de serem incompreensíveis. O resultado é um sentimento de puro absurdo. Isso é kafkiano. Em Na Colônia Penal, o autor trabalha com seu tema favorito: a forma como operadores da lei exercem suas habilidades de tornar o mundo cruel, controlado e abstrato demais àqueles que não conhecem seu vocabulário.
Na Colônia Penal – História
Estamos em uma colônia penal. Em alguma ilha situada na região dos trópicos, distante da metrópole. O pano de fundo histórico está no fato de que, no início do século XX, e portanto contemporâneo a Kafka, os principais países europeus possuíam colônias espalhadas por todos os continentes. E em alguns desses territórios mais isolados, como as ilhas do pacífico, a metrópole instalava colônias penais. Esses locais serviam para exilar prisioneiros, separando-os da população geral, colocando-os em um lugar remoto como punição.
Nessa ilha penitenciária chega, certo dia, um visitante estrangeiro que foi convidado a assistir à execução de um prisioneiro em um estranho aparelho desenvolvido pelo antigo e já falecido comandante da ilha. A finalidade desse aparelho é imprimir, como uma tatuagem macabra, a sentença no corpo dos culpados por meio de agulhas que rasgam a carne até provocar a morte. O aparelho mortal é composto de uma cama, rastelo e desenhador.
“- Ele sabe qual é a sentença? – Não – respondeu o oficial. E quiz, de pronto, continuar suas explicações, mas o viajante o interrompeu: – Ele não sabe qual é a própria sentença? – Não. Seria inútil anunciá-la.”
Na cena da execução estão os personagens principais da história. Além do viajante, o prisioneiro, o soldado e o oficial encarregado pela execução. Logo chama a atenção do leitor o fato do oficial descrever o aparelho de forma detalhada, num tom neutro, como se estivesse apresentando, à moda realista, o funcionamento de uma moderna máquina produzida pela Revolução Industrial. O oficial não demonstra crueldade, apenas um estranho senso de justiça, mas que inesperadamente se revela cruel e imoral aos olhos do visitante.
O oficial é o operador da máquina e o juiz a um só tempo, e só ele tem acesso a escrita que a máquina imprime no condenado. Embora haja uma denúncia e uma acusação, o prisioneiro não conhece sua culpa, tampouco a sentença; não há defesa, já que a culpa é indiscutível. A execução da pena é notável, já que gera no condenado uma dor excruciante durante doze horas, tempo em que a agulha leva para escrever em suas costas a sentença. Diante de tudo isso, o viajante se impressiona com a convicção do oficial na execução como algo necessário.
“Na verdade, ele tinha a obrigação de se levantar a cada batida da hora e prestar continência diante da porta do capitão. Certamente não é um dever difícil, mas é necessário.”
O viajante fora chamado na ilha pelo comandante atual da colônia penal, que não estava satisfeito com o método de tortura e execução do oficial. Mas o viajante não é um homem de ação, ele se restringe a emitir a sua opinião apenas ao novo comandante, que toma a decisão de proibir novas execuções com aquele aparelho. Contudo, a vida do oficial estava ligada diretamente ao aparelho, ao qual ele era responsável. Ao não nomear os personagens humanos, Kafka elege o aparelho como o personagem principal.
A máquina, desse modo, deixa de ser apenas um instrumento de punição para se transmutar na personificação de uma ordem impessoal, cuja lógica se escapa à compreensão humana. O silêncio do condenado diante da sentença, o gesto automático do oficial e o olhar perplexo do viajante revelam um panorama onde a razão se dobra à arbitrariedade e a responsabilidade se dilui em rotinas frias e burocráticas. Kafka, por meio desse cenário, expõe a fragilidade de um sistema que, ao legitimar a dor alheia, consagra o absurdo da existência moderna – onde as regras são impostas a uma massa que jamais tem a chance de entender ou se defender.
Na Colônia Penal – Conclusão
Kafka nos convida a uma reflexão profunda sobre o preço exato da obediência cega e da manutenção de estruturas opressoras, que, embora pareçam fundamentadas em uma ordem superior, só perpetuam o ciclo de sofrimento e alienação. Com esse livro curto podemos traçar vários paralelos sobre o peso opressor do poder: o poder histórico da Igreja, os regimes totalitários, também em estruturas modernas, como em determinadas instituições corporativas e no sistema judiciário em alguns contextos. No livro, o castigo físico torna-se a materialização de enigmáticas diretrizes que algum dia foram legitimadas por qualquer um, menos por aquele que as sofre. Este é quase uma verdade absoluta da obra de Kafka: você só pode sofrer por algo que não entende.
Até que ponto aceitamos a opressão e a violência como algo normal?
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Até a próxima!