O Cão e os Caluandas
O Cão e os Caluandas

O Cão e os Caluandas

Título: O Cão e os Caluandas

Autor: Pepetela

Editora: Dom Quixote

Páginas: 146

Resumo do livro O Cão e os Caluandas

Pepetela, pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, é um dos mais importantes escritores angolanos. Nascido em Benguela em 1941, ele participou ativamente da luta pela independência de Angola como membro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Sua obra literária é marcada por um forte engajamento político e social, explorando temas como identidade nacional, colonialismo, guerra civil e os desafios do pós-independência. Pepetela combina crítica social com elementos da cultura angolana, e sua escrita é reconhecida por seu estilo irônico e profundo conhecimento da realidade do país.

O Cão e os Caluandas – História

O Cão e os Caluandas foi publicado em 1985 e retrata Angola nos primeiros anos pós-independência. Após conquistar sua independência de Portugal em 1975, Angola mergulhou em uma longa e devastadora guerra civil entre os principais movimentos de libertação. O livro se passa em Luanda, capital do país, e mostra o cotidiano da cidade sob o regime socialista do MPLA, marcado por escassez, burocracia, corrupção e tensões sociais. O livro se insere em um momento de desilusão com os rumos da revolução e com a corrupção crescente no Estado angolano. Pepetela utiliza a figura de um cão misterioso que circula pela cidade como fio condutor para revelar as contradições e absurdos da nova sociedade angolana, misturando crítica política com elementos de realismo mágico.

“Isto é uma Babilônia ingovernável. Uma Torre de Babel. Os esgotos não funcionam, as ruas parecem queijos, as árvores imitam as ovelhas na Europa, tosquiadas rentes, os ratos confundem-se com os coelhos, os passeios sujos, os prédio sempre a feder de podres. a luz elétrica sempre com falhas, os jardins mortos. De quem a culpa?”

Não há uma história linear. O livro se compõe de episódios independentes, pequenas crônicas que se interligam por meio de uma figura simbólica, um cão da raça pastor alemão, que percorre Luanda, observando e atravessando os diferentes ambientes e camadas sociais. Esse cão sem dono, que vaga pela cidade, funciona como um observador silencioso da sociedade angolana. Em torno dele se desenrolam histórias de personagens conhecidos como caluandas, ou seja, os habitantes de Luanda. 

Cada capítulo aborda uma situação diferente: a corrupção de um funcionário público, o oportunismo de um burocrata, as tensões entre antigos combatentes e a nova elite, a desigualdade social crescente, e até o choque entre valores tradicionais e modernos. Aos poucos, o leitor percebe que o cão funciona como a consciência coletiva da cidade e de seus habitantes.

“Quando um indivíduo se decide a enfrentar o papel sujeita-se voluntariamente a tudo.”

Pepetela faz uma crítica severa à burocracia, ao nepotismo e à corrupção que se espalham no governo e na sociedade após a independência. O ideal revolucionário, que antes prometia igualdade e solidariedade, se perde diante de interesses pessoais e ganância. Luanda é retratada como uma cidade em transformação, onde convivem luxo e miséria. O contraste entre o centro urbano e as zonas periféricas reflete a desigualdade que marca o novo Estado angolano.

A linguagem é permeada por expressões locais, humor e coloquialismo, o que dá autenticidade cultural ao texto e aproxima o leitor da realidade angolana. Ao mesmo tempo, há um uso sutil de simbolismo e metáforas, o que eleva o livro a um patamar universal de reflexão sobre o poder e a corrupção.

O Cão e os Caluandas – Conclusão

O cão é a grande metáfora do romance. Ele representa o olhar crítico, livre de interesses, sobre uma sociedade que perdeu o rumo. Ao contrário dos humanos, o cão é fiel, não corrompido, e observa com lucidez o comportamento dos homens. Muitos críticos veem nele o alter ego do próprio autor, que se coloca como testemunha moral da decadência pós-revolucionária. O Cão e os Caluandas é um romance de desilusão e consciência. Representa o momento em que a utopia revolucionária se choca com a realidade. A figura do cão, sempre à margem, mostra que quem observa demais, acaba isolado, ao mesmo tempo em que reflete sobre a distância necessária para analisar o objeto de análise de forma mais abrangente e complexa.

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