Título: O Cortiço
Autor: Aluísio Azevedo
Editora: Saraiva
Páginas: 246
Resumo do livro O Cortiço
O livro é considerado a expressão máxima do Naturalismo. Essa vertente literária surgiu em paralelo ao Realismo, que teve em Memórias Póstumas de Brás Cubas seu maior exemplo. Enquanto o Realismo se ocupa com a constituição sociológica e cultural do ser humano, partindo dela para explicá-lo, para o Naturalismo o ser humano deve ser explicado pela sua própria natureza, na fisiologia, nos instintos, no organismo, na própria estrutura anatômica do homem, sendo ela e apenas ela capaz de fornecer uma explicação global para o comportamento humano.
O Cortiço – História
No livro não há um personagem principal, nem mesmo um herói ou um vilão. O próprio cortiço, como uma unidade orgânica viva, é o ator principal desse livro, e os personagens são explicados quando entram em contato e mantêm relação com ele. O Cortiço apresenta os dois lados do ser humano. Se por um lado, o homem é um animal, biologicamente falando, é também um ser humano em termos culturais. E essa dialética é claramente apresentada no livro.
João Romão era um português com anseios de riqueza e de ascendência social. Para realizar seus projetos comprou uma venda no centro do Rio de Janeiro, da época do Império. Ele envolveu-se com uma escrava fugitiva, Bertoleza, que tinha uma pequena venda na vizinhança. Bertoleza servia de mulher e de força de trabalho para Romão alcançar seu sonho de ganância. João Romão era um homem que não tinha princípios éticos. Ele forjou uma carta de alforria para Bertoleza em troca de um pagamento. Com esse dinheiro, Romão comprou um terreno e iniciou a construção das casas do cortiço.
“Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, todos os seus atos, todos, fosse o mais simples, visaam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens.”
Vários tipos foram alugando as casas do cortiço de Romão. Cada um com sua peculiaridade e representando os tipos sociais que então habitavam na capital do Império brasileiro. Negras alforriadas, lavadeiras suburbanas, trabalhadores braçais, malandros e velhos encostados. Entre as histórias que se passam no cortiço, uma, em especial, é interessante. Em uma das casas vivia o casal Firmo e Rita Baiana. Ele um trabalhador braçal de uma pedreira, capoeirista e beberrão; ela uma mulata lavadeira e festeira.
Com diversas casas construídas no cortiço, Jerônimo e Piedade chegaram. O casal de portugueses simples resolveu morar no cortiço para viverem em paz. Mas não contavam com a libido de Rita Baiana que logo enfeitiçou Jerônimo. O português, que tocava sua música lamoriosa aos domingos, logo trocou seu violão pelo samba e pelo rebolado da mulata. Caiu de amores por Rita. Mas Firmo não deixaria essa traição barata. Os dois brigaram várias vezes, até que Jerônimo conseguiu matar seu adversário. O português fugiu com Rita e abandonou sua esposa e sua filha. O conflito entre Firmo e Jerônimo e entre Rita e Piedade, coloca em lados opostos o brasileiro e o português, o branco e o mulato, o homem e o animal.
“E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.”
Porém, quando Miranda alugou uma das casas de Romão é que a história ganhou outros contornos. Miranda era um pequeno aristocrata que havia se mudado para o cortiço de Romão para fugir da fama de adúltera que sua esposa, Estela, tinha. Ali, afastado dos olhares da alta sociedade, Miranda poderia seguir normalmente com sua vida. A relação dele com Estela é um retrato dos acordos matrimoniais da época. Estela participava com o dote e Miranda com a influência. Um casamento de aparências, como era normal na época. Miranda fingia se importar com as traições de Estela. Estela só queria dar vazão às suas vontades sexuais. No fundo, Miranda e Estela se completavam.
“À noite, quando se estirou na cama, ao lado da Bertoleza, para dormir, não pôde conciliar o sono. Por toda a miséria daquele quarto sórdido; pelas paredes imundas, pelo chão enlameado de poeira e sebo, nos tetos funebremente velados pelas teias de aranha, estrelavam pontos luminosos que se iam transformando em grã-cruzes, em hábitos venera de toda ordem e espécie.”
O baronato conseguido por Miranda fez crescer em Romão a inveja e também o desejo por essa ascendência social. Logo Romão trocou sua rotina de trabalho árduo na venda pelos passeios públicos e por visitas recorrentes à casa de Miranda. Não demorou para Miranda oferecer a mão de sua filha adolescente ao amigo Romão. Mas Bertoleza era um entrave à esse esquema. Como ela ainda vivia com Romão, Estela não casaria sua filha com um homem que morava com outra mulher. A solução encontrada por Romão foi encontrar o filho do antigo dono de Bertoleza e entregá-la como escrava fugida.
Bertoleza descobriu os planos de Romão. Ela percebeu que sua vida voltaria a ser de dor e sofrimento como escrava, e tomada de uma tristeza profunda por saber que todo o seu esforço em trabalhar para Romão havia sido em vão, tirou a própria vida na iminência de voltar a ser escrava. Para completar o paradoxo que faz parte do comportamento humano, no momento em que a polícia chegou para levar Bertoleza e a encontrou sem vida, chegou à porta da venda de Romão a carruagem da comissão de abolicionistas, que vinha trazer a João Romão um diploma de sócio benemérito.
O Cortiço – Conclusão
O livro é uma importante obra da literatura brasileira. Um clássico que mostra não apenas o funcionamento de uma sociedade que perdura até os dias atuais, como escancara as hipocrisias inerentes ao ser humano. O livro parece sinalizar a estrutura profunda da sociedade brasileira, que tem como sua espinha dorsal uma irmandade entre o liberalismo e a escravidão, com seu progresso conquistado mediante o trabalho escravo. Talvez daí venha a quase impossibilidade do Brasil se tornar um país moderno, na medida em que, mesmo inserido numa economia de mercado, deita suas raízes em formas arcaicas de escravidão e de violência. Que estão presentes nO Cortiço e se fazem reverberar nos dias atuais.
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