Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso
Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso

Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso

Título: Os velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso

Autor: Jorge Amado

Editora: Record

Páginas: 243

Resumo do livro Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso

Publicado originalmente em 1961, Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso é um dos romances mais singulares de Jorge Amado, justamente por unir sua característica ironia social a uma elaborada estrutura narrativa. O livro apresenta uma escrita peculiar, marcada pela presença ativa do narrador, que não apenas conta a história de Vasco Moscoso de Aragão, mas também se insere nela, comentando os acontecimentos, fazendo digressões pessoais e refletindo sobre o próprio ato de narrar. Trata-se, portanto, de um narrador autodiegético e metalinguístico, figura rara na literatura amadiana.

Quando o narrador fala sobre o processo de escrita do próprio livro, Jorge Amado lança mão de um recurso conhecido como metaficção, em que o texto revela sua natureza de construção literária — um “signo do signo”, expressão semiótica que indica a consciência do narrador de que está produzindo um discurso sobre outro discurso, a ficção sobre a ficção.

Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso – História

O cenário principal é Periperi, bairro de Salvador, onde Jorge Amado mais uma vez retrata o universo popular baiano com cores vivas e personagens cheios de humanidade. Como é típico em sua obra, o autor valoriza os tipos comuns da sociedade, expondo suas contradições, seus sonhos e suas pequenas misérias. Em Periperi, a vida gira em torno do mar e do verão. Fora dessa estação, os habitantes sobrevivem de lembranças, narrando e recontando os casos passados, até que um novo acontecimento vem quebrar a monotonia: a chegada, de trem, de um homem vestido com uniforme impecável — Vasco Moscoso de Aragão, o Comandante de Longo Curso.

O suposto velho marinheiro conquista a pequena comunidade com suas histórias sobre mares revoltos, tempestades e aventuras em portos distantes. Logo, torna-se a figura mais admirada de Periperi, despertando tanto amizades quanto invejas. Entre os que mais se ressentem de sua popularidade está Chico Pacheco, morador local que, acostumado a ser o centro das atenções, vê-se ofuscado pela aura do comandante. Tomado pelo ciúme, Chico decide investigar a vida de Vasco e provar à cidade que o capitão é, na verdade, uma fraude.

“Quem pode, neste mundo, escapar aos invejosos? Quanto mais se destaca um homem no conceito de seus concidadãos, quanto mais alta e respeitável sua posição, mais fácil alvo para a peçonha da inveja, contra ele se levantam, em vagalhões de infâmia, os oceanos da calúnia.”

A narrativa então se desloca para a Salvador do início do século XX, revelando o passado de Vasco. Neto de um próspero comerciante, o jovem herda fortuna suficiente para dedicar-se exclusivamente à boemia. Passa a frequentar bordéis, cafés e cabarés da cidade, cercado por um grupo de amigos igualmente entregues à vida noturna. Apesar da fama de bon vivant, Vasco sente-se diminuído por não possuir um título — era apenas o “Seu Vasco”, o “Aragãozinho” das rodas da alta sociedade.

Foi então que o chefe da Capitania dos Portos, velho companheiro de farras, teve a ideia de conceder prestígio a Vasco por meio de um título legítimo, mas obtido de forma duvidosa. Graças à influência de seus amigos e as respostas da prova, Vasco Moscoso de Aragão foi aprovado e recebeu o diploma de Capitão de Longo Curso, título oficial que passou a ostentar com orgulho.

O tempo passou, e seus companheiros de boemia foram deixando Salvador. Sozinho, Vasco continuou a exibir-se nos cafés e bordéis, narrando aventuras marítimas cada vez mais exageradas. Até que, em certa noite, foi desmascarado. Decidido a recomeçar, vendeu seus bens e partiu para Periperi. Lá, onde ninguém conhecia seu passado, poderia viver tranquilamente como o comandante aposentado Vasco Moscoso de Aragão, retomando com dignidade o personagem que ele mesmo criara — e que, de certo modo, já fazia parte indissociável de sua identidade.

“Hoje há quem caçoe dos doutores, faça burla dos advogados, achando que anel de grau não prova competência. Já li numa gazeta artigo repleto de argumentos onde se provava, por a mais b, residirem nos bacharéis todos os males do Brasil.”

Quando a farsa é finalmente desmascarada por Chico Pacheco, a cidade se divide: de um lado, os partidários de Vasco, encantados por sua elegância e carisma; de outro, os seguidores de Chico, defensores da “verdade” nua e crua.

O desfecho da história vem com um golpe do destino. Um representante da empresa Navegação Costeira chega à cidade para solicitar ajuda: o comandante de um navio de passageiros falecera subitamente, e, por determinação legal, o comandante mais próximo deveria assumir o posto. Esse comandante, por ironia, era Vasco Moscoso de Aragão. Convocado a comandar de fato, Vasco aceita, mas entrega o comando técnico ao imediato, agindo com prudência e sabedoria. Durante a viagem, Jorge Amado aproveita para ampliar a crítica social e política, retratando o país do fim da década de 1920 — um Brasil dividido entre progresso e atraso, mudança e conservadorismo.

“Tendo dinheiro, pode-se ter tudo quanto se quiser: patentes, diplomas, deputação e senatoria, a mulher mais formosa. Com o dinheiro compra-se tudo, filha minha,”

Na hora da chegada ao porto, porém, o comandante improvisado deixa transparecer sua ignorância náutica. Confuso diante das manobras de ancoragem, ordena que o navio seja preso com todas as amarras, um excesso de zelo que provoca risos e comentários irônicos entre a tripulação e os passageiros. Vasco, alheio ao ridículo, mantém a pose de autoridade. Mas o destino transforma a gafe em glória. Poucos dias depois, uma tempestade colossal atinge o porto, destruindo embarcações e lançando navios contra o cais. Apenas o navio comandado por Vasco Moscoso de Aragão permanece intacto — salvo justamente porque estava preso por todas as amarras.

O ato involuntário transforma o velho boêmio em herói. Recebe condecorações, homenagens e diplomas autênticos que atestam seu valor e bravura. Assim, Vasco retorna triunfante a Periperi, não mais como o impostor simpático, mas como o verdadeiro Comandante Vasco Moscoso de Aragão, de fato e de direito — um homem cuja fantasia, por um capricho do destino, tornou-se realidade.

Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso – Conclusão

Nas entrelinhas, Os Velhos Marinheiros é mais do que a história de um impostor simpático. É uma sátira sobre o prestígio social, as aparências e a necessidade humana de reconhecimento. Jorge Amado constrói um personagem que, mesmo na mentira, cria um mundo mais poético e mais belo do que a verdade banal ao seu redor.

Além disso, a narrativa traça um panorama do Brasil da primeira metade do século XX, quando o país oscilava entre o atraso provinciano e o desejo de modernidade. Periperi, com seus tipos populares, representa o Brasil profundo e passivo, enquanto Salvador e o meio urbano simbolizam a elite decadente e corrompida. Vasco, por sua vez, encarna o brasileiro sonhador, criador de mitos, que vive entre a realidade e a invenção — o homem que precisa fantasiar para existir.

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