Rashōmon e outros contos
Rashōmon e outros contos

Rashōmon e outros contos

TítuloRashōmon e outros contos

Autor: Ryūnosuke Akutagawa

Editora: Ficções Pulp

Páginas: 50

Resumo do livro Rashōmon e outros contos

Ryūnosuke Akutagawa é considerado o pai do conto japonês moderno e uma das figuras mais influentes da literatura do Japão no início do século XX. Sua obra surge em um momento de transição cultural, quando a sociedade japonesa vivia intensamente o confronto entre tradição e modernidade após a Restauração Meiji. Akutagawa se destacou por adaptar narrativas clássicas, lendas e textos históricos japoneses, recontando-os em linguagem moderna e com profundidade psicológica.

Ele foi um dos primeiros a explorar, de maneira sofisticada, temas como a ambiguidade da verdade, os dilemas morais e a fragilidade da condição humana, o que o coloca como precursor da literatura moderna japonesa. Seus contos, geralmente curtos e densos, convidam o leitor a refletir sobre a natureza da realidade e a multiplicidade das perspectivas — algo visível em textos como Rashōmon e Em um bosque, que inspiraram inclusive o cinema, como no célebre filme Rashōmon de Akira Kurosawa.

Rashōmon e outros contos – História

No conto Rashōmon, Ryūnosuke Akutagawa apresenta um cenário desolador e opressor, ambientado nas ruínas do antigo portão de Kyoto, um espaço degradado que funciona como metáfora da própria condição humana. É nesse cenário de decadência que se encontra o protagonista, um homem aparentemente solitário, abandonado pela sociedade e tomado pela incerteza do futuro.

A narrativa, contudo, revela uma ambiguidade perturbadora. Ao se deparar com uma velha senhora que arrancava os cabelos de cadáveres para confeccionar perucas, o homem inicialmente se espanta com a crueldade do ato. A senhora, por sua vez, justifica sua ação com uma lógica perversa: a mulher de quem tirava os cabelos em vida enganava clientes vendendo especiarias falsas, portanto não haveria mal em se aproveitar de seu corpo na morte. Essa explicação, longe de redimir sua atitude, levanta um questionamento incômodo: até que ponto a miséria e a necessidade podem justificar o ato de profanar os mortos?

“Um humilde servo, preso pela chuva, não tinha para onde ir e não sabia o que fazer.”

O clímax do conto escancara o lado mais cruel do protagonista. Se antes parecia um homem fragilizado pelas circunstâncias, revela-se também um predador, ao agredir a senhora e lhe roubar as roupas, deixando-a ainda mais vulnerável. Nesse gesto brutal, Akutagawa mostra como a miséria corrói a moralidade e transforma vítimas em algozes.

Mais do que uma simples narrativa sobre sobrevivência, Rashōmon expõe a desolação do ser humano diante de suas próprias tragédias. O conto sugere que, em contextos de fome e abandono, as fronteiras entre humanidade e monstruosidade se desfazem, revelando um mundo onde cada escolha é marcada pela degradação ética e pela violência latente.

“Segure a língua! Que chance teria gente como você, idiota honesto, de se manter alimentada neste mundo impiedoso?”

No conto Sennin, Akutagawa recupera a figura do eremita lendário que busca a iluminação e poderes sobrenaturais através do isolamento e da disciplina. O protagonista, decidido a tornar-se um sennin, entrega-se durante duas décadas a um trabalho árduo e ingrato a serviço de um casal de médicos, sem qualquer recompensa material ou perspectiva imediata de aprendizado. Essa longa espera, marcada pelo silêncio e pela obediência, revela a dimensão da resiliência necessária para quem almeja ultrapassar os limites humanos.

O desfecho, quando finalmente lhe é concedida a prova de sua conquista — subir em uma árvore e soltar-se no vazio, apenas para descobrir que podia voar —, traduz simbolicamente a realização de seu objetivo. Mais do que um conto sobre ascetismo, Sennin se apresenta como uma parábola sobre perseverança e fé no próprio caminho: apenas a paciência, a dedicação e a confiança inabalável permitem que o impossível se torne realidade.

“Quando meu peito esfriou, tudo ficou tão silencioso como os mortos em seus túmulos. Que silêncio Profundo!”

Em Em um bosque, Akutagawa constrói um conto marcado pela multiplicidade de versões e pela impossibilidade de alcançar uma verdade absoluta. O enredo gira em torno do assassinato de um samurai, narrado a partir de diferentes testemunhos: da esposa, do suposto assassino, de uma testemunha ocular e até mesmo do espírito do morto, convocado por um médium. Cada relato contradiz o anterior, criando um labirinto de versões em que a realidade nunca se revela de forma definitiva.

Esse jogo narrativo, ao mesmo tempo fascinante e perturbador, transforma o conto em uma reflexão sobre a natureza da verdade e sobre como as percepções individuais são moldadas por interesses, culpas e justificativas. Ao apresentar múltiplas perspectivas sem uma resolução final, Akutagawa desafia o leitor a lidar com a incerteza e a reconhecer que a verdade pode ser sempre relativa, fragmentada e subjetiva.

Rashōmon e outros contos – Conclusão

Hoje, a obra de Akutagawa é lida tanto como um retrato da tensão cultural do Japão do seu tempo quanto como uma reflexão universal sobre a moralidade, a percepção e o caráter humano. Seus contos permanecem atuais, pois tratam de questões atemporais: a relatividade da verdade, o egoísmo humano, a corrupção social e o conflito entre instinto e ética.

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