Sargento Getúlio
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Sargento Getúlio

Sargento Getúlio

Título: Sargento Getúlio
Autor: João Ubaldo Ribeiro
Editora: Alfaguara 
Páginas: 163

Resumo do livro Sargento Getúlio

A tarefa de Sargento Getúlio Bezerra era simples: levar um prisioneiro udenista de Paulo Afonso, na Bahia, até Barra dos Coqueiros, município próximo à Aracaju, Sergipe. O prisioneiro era um homem acusado de vários crimes e Sargento Getúlio recebeu do próprio superior, Coronel Acrísio, a missão de acompanhar o sujeito. Mas não contava Getúlio com mudanças políticas abruptas, típicas do Brasil da segunda metade do século XX.

Homem talhado na violência e no sertão, com dezenas de mortes em suas costas, Getúlio nos apresenta um outro Brasil. O Brasil do sertão nordestino que recém havido saído do cangaço, que ainda vivia sob a égide do coronelismo e que apesar de tudo se mantinha firme. A secura do clima e a falta de água completam o cenário dessa história contada em primeira pessoa.

“Se alembre? se em vez de lhe buscar em Paulo Afonso com todos cuidados e lhe trazer nessa viagem tirana da peste, peste, peste, peste! merda, Amaro, segure esse porra desse hudso que este pai dégua se desmantela-se! se em vez de lhe trazer eu lhe passasse o aço e lhe carregasse a cabeça dentro dum bocapio o que ia ter era muita satisfação em todo o Estado de Sergipe, seu bosta, coração de toloco, filho dum cabrunco!”

Sargento Getúlio – História

A história do Sargento Getúlio começa já após a saída de Paulo Afonso. Levados por Amaro em um carro Hudson, Getúlio e o meliante partem para Sergipe. No caminho, a primeira parada é na casa de um sertanejo que morava com sua mãe e sua filha jovem. Com o assanhamento da menina para o lado do bandido, e despertado por uma enorme raiva, Getúlio logo mostra ao leitor uma de suas principais faces: a violência. Sem piedade ou pena, arrancou com alicate os dentes frontais do sujeito.

É nesse local que recebeu a informação de que, por uma mudança política, devia soltar imediatamente o bandido e retornar à Aracaju. Mas homem de palavra e de compromisso, e duvidando das novas ordens entregues, Getúlio decidiu seguir com a missão, mesmo que tivesse que se bater com forças policiais para alcançar seu objetivo. No primeiro embate, com muita coragem e com doses de insanidade, Getúlio decapitou um tenente. Já como foragido, entrou Getúlio em uma pequena cidade para ficar sob a proteção do padre.

“Não gosto de jornal como vosmecê, acho difícil, muitas palavras. Menas verdades. Udenistas, comunistas. Comunistas udenistas. Partido Social Democrático. Quando fomos apanhar o camarada dentro da casa da mulher dama, ele estava lá todo entupigaitado, de roupa de diagonal e gravata lustrosa e dando muita risada e parecia que era uma festa que ele estava.”

As aventuras de Sargento Getúlio percorrem páginas e páginas. Manter a missão se tornou questão de honra. Palavra sagrada no dicionário restrito de Getúlio. Ciente de que atravessou uma linha que não tem volta, Getúlio aos poucos foi compreendendo que o seu compromisso se tornara uma sentença de morte. Contudo, jamais pensou em desistir: “É preciso entregar o bicho. Entrego e digo: ordem cumprida. […] eu levo esse lixo de qualquer jeito, chego lá e entrego. Nem que eu estupore.”

Sargento Getúlio é um livro-testamento. Sendo o principal e quase único personagem da história, Getúlio fala direto ao leitor. A percepção é que o personagem fala olhando bem no fundo dos olhos de quem está lendo. Mistura tempos verbais em seu discurso indireto: às vezes fala de um passado distante, outras de um acontecimento ocorrido ontem, além de fazer previsões de um futuro incerto. Personagem denso e complexo, Getúlio aos poucos se mostra ao leitor, sem contudo abrir seu duro coração.

“Porque não sei mais se é possível levar ele para a capital, essa é que é a verdade. Inda mais, diz o padre, que temos aqui atrocidades, dentes arrancados, violências, e os tempos estão mudando e vosmecê cortou a cabeça dum tenente e não sei como é que isso vai ser, inda se fosse um cabo, qualquer coisa assim, mas como é que se vai cortar a cabeça dum superior mesmo no acesso, acho que é maluquice. Que desse umas porradas, ainda vá, ou arrancasse um olho na disputa, uma coisa dessas, quase que sem querer, acontece. Agora, a cabeça não; a cabeça se vai lá, se olha o pescoço e se resolve cortar, é uma coisa quase parada, não pode ser.”

Quando percebe que se tornou uma peça fora do tabuleiro por não entender as novas regras do jogo, Getúlio pensou em criar o seu próprio jogo: admitiu virar cangaceiro se precisar. Demonstrou seus temores quando falou em demasia que é um homem sem medo. Getúlio sabia de seu destino: viver e matar. Ele sabia que enquanto vivesse, seguiria matando, até que a morte, seu único destino, chegasse de fato. E fugir nunca foi uma opção: “Eu sumir, eu sumir? Como que eu posso sumir, se primeiro eu sou eu e fico aí me vendo sempre, não posso sumir de mim, e eu estando aí, sempre estou, nunca que eu posso sumir”.

Sargento Getúlio – Conclusão

O autor resgata e ressignifica termos que jamais seriam ouvidos em uma conversa da cidade. Tudo na linguagem remete à cultura popular sertanista que é riquíssima e complexa. Esse aspecto mostra um lado do coronelismo que ninguém se importa muito de conhecer: o dos matadores, jagunços, dos cabras simples e ignorantes que, a mando do político ou coronel, agem sem piedade. Numa inteligente inversão, o autor traz o violento para a cena principal e coloca os grandes mandatários de lado. Cria uma denúncia contundente contra uma estrutura de poder que desafia leis e estabelece seu próprio comando. Em Sargento Getúlio os bandidos não são tão simplórios, eles têm uma história, têm desejos, cultura, alegrias e gostam de viver.

Indico o filme Sargento Getúlio, de 1983, uma adaptação direta do livro.

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