As Barbas do Imperador
As Barbas do Imperador

As Barbas do Imperador

As barbas do imperador

Título: As Barbas do Imperador
Autora: Lilia Moritz Schwarcz
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 623

Resumo do livro As Barbas do Imperador

Uma mistura de ensaio interpretativo e biografia do Imperador Dom Pedro II, esse livro apresenta a monarquia brasileira sob um ângulo original. Ao mostrar o Brasil do século XIX, com sua alta sociedade disputando espaço com escravos e analfabetos, a autora faz um retrato de Dom Pedro II. Imperador aos catorze anos, um homem que governou o país durante quase meio século e que se tornou a figura máxima do Brasil Império. As Barbas do Imperador mostra as muitas facetas do monarca: letrado, viajante, amante do progresso, cidadão, e às vezes, alheio ao cargo que ocupava.

As Barbas do Imperador – História

Com a crise sucessória do trono, em Portugal, Dom Pedro I se viu obrigado a abdicar do trono brasileiro para que pudesse recuperar o trono português para sua filha Dona Maria da Glória. Deixou no Brasil seu sucessor, Dom Pedro II com cinco anos. Durante o período regencial, como forma de evitar uma crise na monarquia pelo vácuo de poder, e com o claro objetivo de manter o poder concentrado, as elites locais mantiveram o príncipe sob uma redoma, protegido dos meandros da política nacional. A preocupação naquele momento era de instruir o jovem príncipe nas artes, políticas e não políticas. Esculpia-se um monarca, no caráter, na educação e sobretudo na personalidade.

Com a política nacional em frangalhos, com revoltas separatistas ocorrendo em todo o território, a elite política decidiu tomar uma decisão. Com o que ficou conhecido como o “golpe da maioridade”, Dom Pedro II foi sagrado Imperador do Brasil com catorze anos de idade. É notável a iconografia e o cerimonial que foi construído ao redor desse momento. Em nada devendo às coroações da Europa medieval, a sagração de Dom Pedro teve todos os elementos necessários para transmitir uma mensagem: a monarquia brasileira estava mais viva do que nunca.

“Transformado em uma instituição nacional muito antes de ter qualquer possibilidade de comando em suas mãos, d. Pedro convertia-se em uma representação política guardada ciosamente pelas elites locais.”

Educado para as artes, tudo indicava que Dom Pedro se limitaria a “reinar”. Cuidaria das artes, das ciências e da cultura, sendo a política e a economia as áreas de atuação que não o mobilizavam. O “grande imperador” era apenas uma representação de si, cumprindo de forma ritual, pomposa e elaborada uma agenda oficial feita para apresentá-lo apenas em momentos destacados. E nesse momento, as imagens cumpriam um papel fundamental: reproduziam um monarca que estava invisível no cotidiano da população. O jovem Dom Pedro II encontrava-se recluso no Paço Imperial, mas mostrava-se seguro, jovem e forte para os súditos. Anos depois, casado por procuração com a herdeira das duas Sicílias, Teresa Cristina, Dom Pedro II daria início a sua vida adulta.

Em capítulo à parte, como se vivendo em um mundo imaginário, a corte brasileira se afeiçoou cada vez mais à moda e à etiqueta europeia. É a época da importação de costumes, vestuário, gastronomia e, principalmente, da cultura europeia para os trópicos. Nada mais distante da realidade da sociedade brasileira, que na época era formada, em sua maioria, por escravos. O Brasil era um país rural e escravocrata, muito distante da opulência e da vida da corte.

“Na ótica da corte, o mundo escravo, o mundo do trabalho, deveria ser transparente e silencioso. No entanto, o contraste entre as pretensões civilizadoras da realeza – orgulhosa com seus costumes europeus – e a alta densidade de escravos é flagrante.”

Na política, com o fim das principais revoltas separatistas, dois partidos disputavam a cena: os conservadores e os liberais. Porém, ambos eram frágeis diante da intervenção direta do Imperador em assuntos pelos quais o próprio monarca não tinha interesse. O interesse do Imperador era destacar uma memória e reconhecer uma cultura. Seguindo esse objetivo, Dom Pedro II fundou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), congregando a elite econômica e literária carioca. A partir de 1850, o Instituto se afirmaria como um importante centro de estudos, favorecendo a pesquisa literária, estimulando a vida intelectual e funcionando como um elo entre a intelectualidade e os meios oficiais.

Dom Pedro II alicerçava a sua imagem de monarca dos trópicos. O objetivo era resgatar as raízes brasileiras. O indígena se tornou o personagem central da iconografia oficial e não eram poucas as imagens do Imperador rodeado por índios e elementos indígenas. Exaltava-se o índio, escondia-se o escravo. O próprio monarca passou a estudar o tupi e o guarani. Cunhava-se a imagem do sábio mecenas, amantes das artes e das ciências, o monarca letrado. Datam dessa época as maiores construções do Império: o Palácio de São Cristóvão, morada oficial da monarquia, e o Palácio de Petrópolis, residência de verão. Assim como a iconografia, a grandiosidade das construções monárquicas deveriam servir para demonstrar a grandiosidade do Imperador e de sua corte.

“Monarca sem querer sê-lo, civilizado em um país escravocrata, cidadão em uma terra que desconhecia a cidadania, Dom Pedro II tinha nas exposições universais um palco ideal para seu cada vez mais esvaziado teatro.”

Cada vez mais distante do termo “reinar”, Dom Pedro II se tornava um estudioso e um entusiasta pelo progresso. Participava com afinco das exposições universais que ocorriam na Europa e nos Estados Unidos. Levava o que o Brasil tinha de melhor para essas exposições, com o objetivo de mostrar um país que mesmo ele desconhecia. É a época do monarca cidadão, que abandonou a pompa da monarquia e os apetrechos imperiais. Dificilmente era visto com coroa e cetro, estava sempre com um jaquetão preto e um livro na mão.

Já com sua imagem desgastada, e a saúde dando indícios de fraqueza, eclodiu a Guerra do Paraguai. Dom Pedro II fez questão de estar presente no campo de batalha, o que serviu como um último suspiro para sua popularidade. O massacre dos inimigos, quando a guerra já estava decidida, manchou novamente sua reputação e à de sua família, uma vez que o marido da Princesa Isabel, Conde D’Eu, era o comandante do Exército nessa fase do conflito. Com o Exército fortalecido, nascia o principal opositor do Império brasileiro.

“Antídoto e veneno, a centralidade do poder de Dom Pedro fazia dele o pivô certeiro de um golpe, mas também, estranhamente, uma imagem que se separava do próprio sistema.”

Isolado pelo Exército que ajudou a fortalecer, a posição do monarca se tornou insustentável quando, em maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a lei que tornava livre todo escravo em solo brasileiro. Como aconteceu anteriormente, quando da assinatura da lei do ventre livre, Dom Pedro II estava em viagem. Nos dois momentos de maior importância política e social do Segundo Reinado, o Imperador estava fora do país. Agora, a monarquia ficaria isolada também pela base política que a sustentava: a elite escravocrata. Sem apoio político, isolada em Petróplis, restou à Dom Pedro II receber das mãos de um ordenança a ordem para se evadir do país, levando consigo a família imperial. Estava dado o golpe que levaria à Proclamação da República.

As Barbas do Imperador – Conclusão

Com a República instaurada, tratou-se de banir tudo o que lembrava a monarquia: os bens e os imóveis foram leiloados; as imagens imperiais foram rapidamente trocadas pelas republicanas; bandeiras, flâmulas e hinos foram rapidamente construídos para evitar que o povo lembrasse de seu passado recente. Os militares se sucederam no poder para consolidar o golpe. Mas para a consolidação da República, os heróis nacionais deveriam ser elevados. Além de Tiradentes, a figura de Dom Pedro II foi novamente lembrada. No centenário da Independência, em 1922, foi autorizado o retorno dos restos mortais de Dom Pedro e Dona Teresa Cristina. O monarca retornava à sua pátria mãe.

A autora faz um trabalho primoroso de reavivar uma história que passa desbercebida pela maioria dos brasileiros. O Brasil da corte e das elites. O Brasil oficial, da pompa e da opulência. No livro, mais que o vislumbre de uma das faces da História do Brasil, vemos os traços fortes e históricos de um dos maiores brasileiros de todos os tempos: o Imperador Dom Pedro II.

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