Lucíola
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Título: Lucíola
Autor: José de Alencar
Editora: Ática
Páginas: 127

Resumo do livro Lucíola

Assim como em Senhora, José de Alencar traz como cenário para esta obra o Rio de Janeiro de meados do século XIX, durante o Segundo Reinado. O autor soube reconhecer os padrões de conduta e valores de uma sociedade em transformação, movida sobretudo pelo dinheiro e preocupada com o status social por ele conferido. Novamente, José de Alencar traz a crítica aos valores sociais em vigência. Em Lucíola, o preconceito moralista de Paulo, personagem narrador, está já na primeira página. Ele escreve uma carta à Sra. G. M., contando sua aventura amorosa com Lúcia. Porém, o objetivo maior é que a destinatária da carta possa publicar a história, sem que Paulo seja vítima do moralismo da sociedade

“Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro;todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.”

Lucíola – História

A história começa em 1855. Paulo era um jovem de 25 anos recém chegado ao Rio de Janeiro, vindo de Olinda. Nos primeiros passeios que deu pela cidade, conheceu Lúcia. Apaixonou-se na primeira vista, enxergando em Lúcia uma encantadora e recatada menina. Porém, seu encanto por Lúcia começou a se desfazer quando Sá, um amigo de Paulo e que no livro representa os valores e os preconceitos da sociedade, disse à Paulo que longe de ser uma senhora, Lúcia era uma mulher atraente.

Paulo, com o ardor da paixão juvenil, não se conteve com os ditos sobre Lúcia e resolveu visitá-la. Já na segunda visita, mudou sua postura, e descobriu a verdadeira Lúcia. Aqui, é importante ressaltar a habilidade e a genialidade de José de Alencar em descrever a cena do primeiro contato físico entre Paulo e Lúcia. Transformada em uma mulher, muito diferente da aparente inocente menina, Paulo não refreou seus sentimentos. Tinha certeza que amava Lúcia. Mas uma festa em casa de Sá, mudaria sua visão.

“Se eu amasse essa mulher, que via pela terceira ou quarta vez, teria certamente a coragem de falar-lhe do que sentia; se quisesse fingir um amor degradante, acharia força para mentir; mas tinha apenas sede de prazer; fazia dessa moça uma ideia talvez falsa; e receava seriamente que uma frase minha lhe doesse tanto mais, quanto ela não tinha nem o direito de indignar-se, nem o consolo que deve dar a consciência de uma virtude rígida.”

Na festa, além de Paulo, Sá, e Lúcia, estavam dois outros boêmios, Cunha, e Rochinha, e três outras prostitutas. Ao final do banquete, após comerem e beberem de forma extravagante, foi solicitado às damas algum tipo de espetáculo. Então, o asco e a ojeriza tomaram conta de Paulo, ao ver, diante de seus olhos, uma performance de Lúcia. Totalmente nua, insinuando-se aos homens presentes, ela dançava, arquejava e se projetava eróticamente, como uma ninfa, sem o menor pudor ou vergonha. A partir daquele momento, Paulo encontrou-se em uma posição difícil, com sentimentos contrários tomando conta de sua existência. De um lado seu amor incontrolável por Lúcia, de outro o pudor e o moralismo por se relacionar com uma cortesã.

Ao mesmo tempo em que tentava se afastar de Lúcia, Paulo buscava se aproximar. Entre sentimentos opostos, vivendo de uma terrível tristeza, Paulo buscou novamente por Lúcia. Em uma nova noite de prazer, descrita por José de Alencar de forma simplesmente incrível, Lúcia entendeu que o seu lugar era com Paulo, e que a sua salvação, para a sua vida profana, estava bem em frente à ela. Mudou-se para uma casa menor; desfez-se de amizades nocivas e mudou sua rotina. Estava mais caseira, afeita aos afazeres de uma dona de casa recatada ao homem que amava.

“O rosto cândido e diáfano, que tanto me impressionou à doce claridade da lua, se transformara completamente; tinha agora uns toques ardentes e um fulgor estranho que o iluminava. Os lábios finos e delicados pareciam túmidos dos desejos que incubavam. Havia um absimo de sensualidade nas asas transparentes da narina que tremiam com o anélito do respiro curto e sibilante, e também nos fogos surdos que incendiavam a pupila negra.”

Então, somos apresentados a verdadeira história de Lúcia. Nascida em uma família pobre, Lúcia nasceu Maria da Glória, e logo se viu responsável pelo sustento de sua família. Com o surto de febre amarela na cidade, seus pais e irmãos ficaram acamados e impossibilitados de prover o necessário para a família. Sem ter o que comer, procurou por ajuda na casa de Cunha (o mesmo que estava presente na festa na casa de Sá). Com a malícia e a maldade do homem, Cunha se aproveitou da extrema necessidade pela qual Maria passava e trocou os tostões que deu à menina pela sua virgindade e inocência. Como a situação triste e deploravel de sua família continuasse, Maria continuou a vender seu corpo para poder sustentar a todos.

Quando soube o que Maria estava fazendo, seu pai a deserdou. Maria então se tornou Lúcia, mudou-se para outra casa e continuou com a vida que imaginava ser o seu destino. Até conhecer Paulo. De sua família, sobrara apenas sua irmã mais nova Ana. Já estabilizados, Lúcia engravidou de Paulo. Mas a marca da profanação de seu corpo ainda era uma ferida psicológica aberta. Sentindo-se suja e impura para ter o filho de Paulo, morreu, grávida. Cumprindo a promessa que fizera, Paulo passou a cuidar de Ana, então com 12 anos.

Lucíola – Conclusão

“Sabes que terrível coisa é uma cortesã, quando lhe vem o capricho de apaixornar-se por um homem! Agarra-se a ela como os vermes, que roem o corpo dos pássaros, e não os deixam nem mesmo depois de mortos. Como não tem amor, e não pode ter, como a sua inclinação é apenas uma paixão de cabeça e uma excitação dos sentidos, orgulho de anjo decaído mesclado de sensualidade brutal, não se importa de humilhar seu amante. Ao contrário sente um prazer novo, obrigando-o a sacrificar-lhe a honra, a dignidade, o sossego, bens que ela não possui. São seus triunfos.”

O livro trata de uma história que podemos transportar para os dias atuais. O moralismo que tanto maltratou Paulo e Lúcia, ainda se faz presente em nossa sociedade. Combatemos questões morais sempre com a névoa do conservadorismo a nos espreitar, mesmo que de forma subjetiva. Paulo tinha vergonha de sua história com Lúcia. Lúcia tinha vergonha da vida que levou, mesmo que tenha sido levada à ela por fatores que fugiam de seu controle. A sociedade nunca os perdoou, Paulo era sempre ridicularizado por seus amigos, Lúcia continuava a ser apontada na rua.

Duas questões marcam essa leitura. Primeiro a genialidade da escrita de José de Alencar. Não é sem razão que sua escrita notável foi homenageada e reconhecida por seus contemporâneos, entre eles Machado de Assis. E, por fim, o sentimento de assombro com a certeza de que precisamos avançar muito mais, como sociedade, para suplantar os preconceitos e os falsos moralismos enraizados. 

Indico a adaptação para o cinema: Lucíola – O Anjo Pecador, de 1975.

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